6.4.15

My Favorite Demon XV

Créditos da imagem à F.Y.S.M.
Capitulo 14 | My Favorite Demon | Capitulo 16
Separação
 
–A que devo a infelicidade da vossa visita? – o homem de cabelos platinados passou para trás do balcão sem sequer olhar para mim.

–Agradável como sempre... – sorri sarcasticamente, logo encarando as costas do homem à minha frente. – Vou direto ao assunto, sabe de algo estranho sobre o submundo ultimamente?

– Quando o submundo for normal, aí sim teremos que nos preocupar... – ele me olhou por um instante e logo voltou a mexer em seus papéis

–Você sabe bem do que eu estou falando... – disse enquanto caminhava imperiosamente até o balcão, sendo seguida de perto por Sebastian.

–Sim, sabemos do que eu sei... – Ele apoiou-se sobre o balcão à sua frente, encarando-me de perto. – Mas a questão aqui é o que você sabe.

Eu o encarei impaciente enquanto batucava a madeira velha do balcão com as unhas. Encarava os dentes afiados do coveiro que agora estava tão próximo enquanto pensava em como fazê-lo falar...
Num piscar de olhos ele se moveu em minha direção. Sebastian sacrificou seu braço, colocando-o em minha frente no momento em que os dentes do coveiro estavam prestes a alcançar meu rosto. Olhei espantada para o braço ensanguentado do meu mordomo, que ainda sentia as presas afiadas em sua carne.
Undertaker sorriu e afrouxou a mordida, permitindo que Sebastian arrancasse seu braço do meio de suas presas –não que ele não fosse acabar fazendo isso, à força ou não. Ele recuou um pouco e sorriu pra mim, o sangue negro do meu demônio escorrendo de seus lábios...

–Não vejo sentido em ajudar a dona do corpo no qual tanto quero pôr as mãos. –ele sibilou sarcasticamente. Logo olhou para Sebastian, que o estripava com os olhos, e voltou a me encarar – E eu e seu cachorrinho de estimação aí não somos os únicos que cobiçamos sua alma valiosa, acho que é inteligente o suficiente para descobrir quem a quer tanto a ponto de recorrer aos nossos “amiguinhos”...

Após dizer isso Undertaker piscou para mim e se virou, sumindo sob as cortinas negras detrás do balcão, era a nossa deixa. Deixei a funerária e continuei caminhando em silêncio pela calçada, Sebastian me seguia tão silencioso quanto um morto, podia sentir que sua mente não estava em mim naquele momento, não diretamente, mas sim nas palavras daquele homem. Depois de alguns anos de convivência, aprendi a ler meu demônio tão bem quanto uma criança de 6 anos lê um clássico de Shakespeare: apesar de não compreender totalmente, conseguia absorver uma coisa ou duas.

–My lady pensa demais em coisas desnecessárias... – Sebastian sussurrou, a voz baixa o suficiente para que eu o ouvisse apesar dos barulhos do dia-a-dia que nos rodeava. –Deveria estar pensando em como não ser devorada, mas ao invés disso está pensando no que se passa em minha cabeça... Devo me sentir honrado?

Parei e olhei-o por sobre o ombro, Sebastian tinha um sorriso sarcasticamente sedutor nos lábios e um olhar incendiante fixo no meu. Apenas sorri e retruquei, antes de continuar caminhando:

–Ao invés de se meter em minha cabeça, creio que seria mais prudente para um mordomo como você pensar no meu jantar... – o encarei enquanto aguardava uma chance de atravessar a rua, logo prossegui. – Ou em como impedir que roubem a “refeição” que tanto deseja.

Meu demônio parou ao meu lado e sorriu, um sorriso que expressava bem nosso segredo, o sorriso de um predador satisfeito em ouvir que ainda tinha controle sobre sua presa... Atravessamos a rua e ao virar a esquina fomos surpreendidos por um shinigami. Um shinigami ruivo bem familiar, para ser mais específica.

–Sebas-chan! –Grell pulou no pescoço do meu mordomo tão logo o avistou, sendo interceptado e conseguindo no máximo beijar a palma da mão de Sebastian por sobre a luva. – Eu estava pensando em te fazer uma visitinha assim que acabasse com meu relatório sobre o novo inccubus... Will-chan está pegando no meu pé ultimamente e...

–Novo inccubus? – Sebastian arqueou as sobrancelhas enquanto encarava o shinigami

–Eh? Sim, ainda não soube? Pensei que fossem atualizados, afinal, você escolheu acompanhar uma caçadora... –ele bufou com ar superior enquanto me encarava com desdém – Os shinigamis estão recolhendo muitas almas danificadas, tiveram a essência sugada por esse inccubus... Todo o departamento o está caçando mas até agora não fizemos grandes progressos.

–Compreendo... –Sebastian respondeu pensativo, a mão sob o queixo enquanto sua mente ainda estava distante...

–Bem, creio que esse inccubus não tenha a ver com nossos negócios atuais. Se nos dá licença, nós temos que trabalhar.

Passei pelo shinigami sem nem olhar para trás e poucos segundos depois Sebastian também me acompanhou, deixando o ruivo solitário para trás. Talvez tenha sido grossa, mas as políticas de etiqueta não se aplicam à shinigamis... Ao menos não no meu ponto de vista e não àquele shinigami em particular.

–Bem, foi uma viagem perdida. –disse finalmente. – Vamos voltar para a mansão, também quero verificar o estado do Kyro...

–Como desejar my lady...

Sebastian parou uma carruagem e depois de longos minutos num silêncio que chegava a ser constrangedor nós chegamos. Comecei a desabotoar meu casaco tão logo passei pela porta e entreguei-o a meu mordomo, subindo as escadas em seguida.
Meu ultimo encontro com Kyro não foi dos melhores... E nada indicava que seria melhor dessa vez. Bati de leve na porta do quarto onde ele vinha sendo hospedado e logo ouvi sua voz meio distante permitir minha entrada.

–Kyro? – abri a porta e olhei em volta, nem sinal dele. Apenas algumas roupas e bandagens largadas sobre a cama...

–Luna? Um minuto... –A voz vinha do banheiro, ele parecia surpreso ao saber que era eu que estava ali, apesar de estar na minha casa acho que ele não pensou que depois de tudo eu iria ao quarto dele... A porta do banheiro se abriu e meu noivo saiu de roupão, julgando pelo nó mal feito e a parte de cima meio aberta, havia se enrolado às pressas. Virei-me rapidamente, apesar de não ser nada demais, minhas bochechas estavam coradas. Não era prudente uma garota ver um homem em tais condições... –Perdoe-me constrangê-la assim, se puder esperar um minuto eu me aprontarei adequadamente...

Ainda de costas para ele, comecei a andar de lado em direção a porta. Gaguejei um pouco enquanto tentava explicar que não era um assunto tão importante assim e que ele não deveria estar tão a vontade numa situação como essas...

–Antes de sair... – a voz dele fez com que eu parasse e prestasse atenção, ainda sem me virar. – Gostaria de avisar que estou indo para casa hoje. Assim que acabar de arrumar minhas coisas vou providenciar meu retorno... Creio que não tenho mais nada a fazer aqui e, apesar de ter sido repentino, agradeço pela estadia e por sua boa vontade.

Palavras tão formais saíam da boca dele...
Ele ainda duvidava de mim... Não o culpo, afinal, uma pessoa normal jamais entenderia a verdade por trás do que ele tinha visto. Essa é a maldição dos caçadores, jamais serão compreendidos, nem pelos próprios semelhantes...
Eu finalmente cheguei até a porta, respirei fundo enquanto girava a maçaneta e soltei um “Foi um prazer, boa viagem de volta” automático enquanto saía dali. Sabia que assim que chegasse em casa a primeira coisa que ele faria seria desfazer o acordo matrimonial feito anos atrás por nossos pais, o acordo que ligaria e garantiria mais uma linhagem para honrar os nomes gloriosos de nossas famílias... Bem, falhei em dar continuidade ao sobrenome dos Kyotsu, mas não falharia em honrá-lo.
Caminhei até meu escritório e praticamente me joguei em minha cadeira, fechando os olhos e me deleitando no prazer que era estar sozinha... Tendo minha amostra grátis do que me aguardava quando Sebastian se cansasse desse jogo de gato e rato e acabasse com a brincadeira.

–Ele é um demônio, afinal... - Suspirei pra mim mesma, mesmo com os olhos fechados o rosto do meu mordomo era perfeitamente representado em minha mente. –Por que estou pensando nisso?

Acho que a cena de agora a pouco com o Kyro mexeu um pouco comigo... Todos desistiam de mim com uma facilidade assustadora, Sebastian era o único que se mantinha firme ao meu lado. Nessas horas prefiro esquecer que estamos presos por um contrato e imaginar que ele está aqui porque se importa afinal, não sou exatamente um fardo para ele... Sou?
Abri os olhos e encarei o quadro pendurado do outro lado da sala: eu sentada em uma poltrona de veludo vermelho, numa versão muito mais imperiosa e decidida, acompanhada de um Sebastian fielmente parado de pé ao meu lado.

–Como seremos até o fim... – sussurrei para mim mesma, logo vendo meu mordomo passar pela porta.

– Parece que temos um baile para ir esta noite... –Sebastian parou sério ao meu lado, trazia um envelope aberto em uma bandeja de prata.

–Não desejo sair de casa esta noite Sebastian, envie um presente e invente uma desculpa plausível o suficiente. Diga que não estava disposta ou que tinha negócios fora da cidade a resolver... Não sei. –fechei os olhos novamente e escorreguei um pouco na poltrona, sequer dando atenção à bandeja que Sebastian aproximava ainda mais de mim.

Noblesse oblige...–Sebastian disse de forma séria, fazendo com que eu abrisse somente um dos olhos para encará-lo.

Soltei um longo suspiro, ele estava certo. Pra variar.
Conforme os anos iam passando e eu ia amadurecendo, ia vendo cada vez menos pontos positivos em fazer parte da nobreza. Os infinitos vestidos e empregados não me impressionavam mais e até mesmo os bailes já não passavam de uma obrigação... Será que existia, de verdade, um ponto positivo nisso tudo?
Sebastian sorriu, certamente se divertindo com meus pensamentos estúpidos. Fuzilei-o com o olhar e ele apenas cerrou um pouco os olhos, sorrindo ainda mais levemente com aqueles lábios finos e frios, seu sorriso nº 17.

–A que horas devo estar pronta? – ajeitei-me na poltrona, preparando-me para levantar.

–O baile terá início às dez da noite... –ele pegou o convite e começou a lê-lo, logo assentindo pra si mesmo e prosseguindo. – Um baile à fantasia para comemorar o aniversário de 18 anos da sobrinha do lorde Himitsu, lady Roffstader.

Faz sentido eu ser convidada mesmo depois de tantos anos sem contato com os Roffstader. Com certeza o senhor Himitsu estava financiando a festa, ouvi que a família da irmã dele estava passando por dificuldades devido à jogatina do marido... Aquele velho está me sufocando com uma proposta de aliança empresarial, apesar de eu estar abrindo uma loja de doces e ele ser dono da maior fábrica têxtil da cidade, e me convidar para uma festa de família vai nos aproximar, ao menos é o que ele acha.

–Eu me lembro dela, é mesmo uma princesinha mimada e mandona desde pequena... –disse por fim. Levantei-me e tirei a franja da frente dos olhos, logo encarando Sebastian. Diga para Marye ir ao meu quarto, já sei do que iremos nos fantasiar... Sorri e, antes que Sebastian pudesse me dar a resposta, continuei. Já que vai me acompanhar, prefiro que seja vestido a caráter. Além do mais... –fui caminhando em direção à porta, sendo acompanhada por Sebastian, que a abriu para mim. –Muitos suspeitos da ultima festa certamente estarão lá, será a sua chance de diminuir significativamente nossa lista de pessoas realmente suspeitas...

–Será um prazer acompanhá-la como seu par, my lady. –ele fez uma reverência sem desviar o olhar de mim –E fique tranquila, antes que perceba o verdadeiro culpado estará ao seu dispor.

Apenas assenti e comecei a caminhar para meu quarto quando ouvi um barulho alto no andar de baixo. Parei e me virei para Sebastian que estava encarando o nada, concentrando-se em ouvir o que se passava lá em baixo.

–Sebastian...

–Yes, my lady.

Sebastian caminhou calmamente em direção às escadas, tinha entendido minha ordem sem nem mesmo eu precisar dizê-la. Esta é a vantagem de tê-lo como mordomo e protetor, palavras não são realmente necessárias entre nós...
Alguns minutos depois, ouvi um barulho ainda mais alto, desta vez parecia vir do quarto de Kyro. Sequer sabia que ele ainda estava na mansão, então caminhei com calma e meio distraída até a porta de madeira e bati de leve, ainda estava concentrada e curiosa no que poderia estar acontecendo lá embaixo...

–Entre. –a voz dele parecia diferente, estava mais rouca... não sei...

–Só vim ver se estava tudo bem, ouvi um barulho alto... –evitava olhar nos olhos dele, imaginei que ele sequer quisesse me ver e aqui estou eu, perturbando-o novamente...

–Ah, é que... –ele pigarreou – Eu pensei ter ouvido um barulho e acabei me distraindo e tropeçando no criado mudo. Sinto muito se lhe preocupei...

Olhei para o criado mudo, que agora estava caído no chão ao lado da cama acompanhado de uma luminária quebrada e alguns livros. Kyro foi até lá e se abaixou, começando a pegar os livros e colocando-os sobre a cama.

–Não se preocupe com isso, vou pedir para Marye vir limpar isso... – caminhei até ele, ainda estranhando um pouco sua reação, um conde como ele não se abaixava assim para limpar as coisas...

–Não precisa, vocês já fizeram muito por mim nesses dias e sei que eu posso ao menos tirar as coisas do chão. –ele olhou para mim por sobre o ombro e sorriu, dando uma piscadela.

Ele se levantou, deixando os restos do que um dia já fora uma bela luminária vitoriana ainda no chão, e veio até mim, ficando relativamente perto demais de mim. Ele sorriu e se inclinou um pouco sobre mim, mas o que ele estava pensando em fazer? Ia mesmo me beijar depois de ter me dito todas aquelas coisas mais cedo?

–E-err... Kyro? – recuei um pouco, encarando-o, mas ele se inclinou mais.

Depois disso, tudo aconteceu rápido demais. Ao invés de me beijar, Kyro abriu a boca, mais do que uma pessoa normal deveria ser capaz de abrir, e praticamente se jogou em cima de mim. No mesmo segundo senti alguém me puxar para trás, colocando o braço onde antes estava meu rosto e recebendo a mordida em meu lugar.

– Há quanto tempo, não é, Loki? – Sebastian perguntou com a voz mais fria que o normal, um braço ainda entre as presas do homem à nossa frente e outro abraçando-me pelos ombros. Pouco a pouco, a forma do que eu achava ser meu noivo foi mudando, seus cabelos castanhos tornaram-se pêlos negros e seu rosto um focinho comprido e cheio de cicatrizes. – O que uma escória como você faz aqui?

O demônio sorriu, só então soltando o braço do meu mordomo e afastando-se um pouco de nós. Só então pude ver que seu corpo também sofrera mudanças, seu corpo agora era robusto e coberto de bolhas repugnantes, acompanhado de patas esqueléticas providas de garras afiadas.

– Não sabia que estava aqui, akuma... – o demônio rosnou sarcasticamente– Talvez porque sua essência tenha se tornado tão dócil e inofensiva... lembro que meu irmão jamais se curvaria para um humano, ainda mais uma refeição tão podre como essa..

Sebastian rosnou, logo sorrindo e exibindo seus dentes igualmente pontiagudos enquanto encarava o outro demônio com seus olhos vermelho-sangue. Ele estava saindo de si e acabaria com o outro demônio assim que eu piscasse...

–Sebastian... – segurei-o pela manga do paletó, se ele matasse o demônio antes mesmo de sabermos mais sobre o que estava acontecendo, não adiantaria nada. E se ele tivesse a ver com os outros SM’s?

O segundo que deti Sebastian foi suficiente para que Loki pulasse entre nós e corresse em direção à janela, pulando e sumindo na floresta. Sebastian me empurrara para o outro lado do cômodo, tentando me tirar da reta de fuga do demôdio, logo correu os olhos rapidamente pelo meu corpo, verificando se eu não tinha me ferido mas, em seguida , seu olhar cuidadoso deu lugar a um olhar de raiva. Recuei um pouco, caída no chão a alguns passos de distância do meu mordomo.

– Não saia daqui. – Sebastian rosnou – Ele não era um simples SM. Era um demônio que te encontrou, conseguiu passar por mim e agora pode voltar a qualquer momento para terminar o que veio fazer.

Sebastian se levantou e pulou pela janela quebrada, acompanhando o rastro daquele que ele chamava de Loki e adentrando a floresta. Eu continuei caída no chão, atordoada com tudo o que tinha acabado de acontecer, encarando o que restara da janela.

–My lady? Eu ouvi um barulho, a senhorita está aqu-

Marye gritou assustada, correndo para me socorrer enquanto tentava entender em sua cabecinha inocente o que tinha acontecido.
Os últimos raios de sol do dia invadiam o quarto pela janela quebrada e batiam bem nos meus olhos, cegando-me momentaneamente... Fechei os olhos.
Eu estava assustada demais para explicar e tonta demais para olhar para ela e acalmá-la. Então eu só repousei em seus braços magricelas e agitados e continuei muda, a mente distante, por que me queriam morta? Por que me perseguiam tanto ultimamente?
Quanto tempo mais Sebastian aceitaria me proteger antes de se juntar a eles?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente o que quiser sobre o post ou sobre o blog, mas atenção às regras:

-Comentários só com "seguindo, segue por favor" e/ou "aceita parceria/afiliação" ou qualquer coisa do gênero não serão considerados;
-Xingamentos, palavrões, ofensas ou qualquer tipo de agressão comigo, com o blog ou com os demais nekos estão proibidos!
-Desafios/tags/memes são aceitos, assim como sugestões de posts

(◡﹏◡) (⊙﹏⊙) (◕﹏◕) (◕‿◕) (◡‿◡) (◡︿◡) (´◡ω◡`)
(´◕ω◕`) (´⊙ω⊙`) (´◠ω◠`) (◠ω◠) (●ω●) (●︿●)
ಥ⌣ಥ ಠ_ಠ ( ̄。 ̄)~zzz (″・ิ_・ิ)っ ♪(*ノ・ω・)ノ♫ ∑(゜Д゜;) (ノ◕ヮ◕)ノ
(╯°□°)╯︵ ┻━┻ (ノಠ益ಠ)ノ彡┻━┻
┬──┬ ノ( ゜-゜ノ)